Há seis anos, uma nova hipótese dizia: o titânio ativa o sistema imune. Como estamos agora?
Uma cicatriz é algo sem vida, só fibras. Olhe para sua pele e procure as marcas nas pernas, no joelho, ou no queixo. Todo mundo já caiu da bicicleta alguma vez e ficou brincando com a casquinha de ferida.
Uma cirurgia para implantar um biomaterial também gera uma ferida. Mas esse material não nasceu com você, não veio do berço. É um estranho, forasteiro. Para sobreviver ao “ataque”, seu organismo monta uma defesa, tentando expulsá-lo. É o que vemos nos transplantes, onde os pacientes tomam os medicamentos imunossupressores.
Quando falamos em biocompatibilidade, o titânio é considerado revolucionário, porque reagem bem com o osso. Na cavidade bucal, sua taxa de sucesso é de 95% em média. Mas, como não é possível remover todas as espécies bacterianas, a interface osso titânio também está tão vulnerável ou mais quanto o ligamento periodontal de um dente saudável. E dá-lhe escovação e fio dental.
Entre 2014 e o começo de 2016, cogitou-se que essa relação do titânio com o osso poderia operar de maneira diferente:
ela seria uma reação do osso cortical criando um escudo, um envelope, uma demarcação, uma cápsula de osso cortical, separando o implante de titânio do osso medular, funcionando como uma proteção;
pelo comportamento acima, o titânio não seria mais um biomaterial inerte, haveria sim uma reação imune;
nas proximidades desta interface, células gigantes multinucleadas (reação de corpo estranho) criariam um estado inflamatório crônico ao longo de toda a vida do implante;
fatores externos específicos (força excessiva, por exemplo) poderiam “acordar” estas células gigantes, gerando a reação de corpo estranho, e a reabsorção óssea.
Todavia, em 2019, um artigo refutou parte da teoria, reexaminando outros trabalhos já publicados, mostrando que as tais células gigantes multinucleadas e o tecido ósseo poderiam conviver lado a lado. No caso, as células gigantes não seriam vilãs, mas sim, promotoras da formação celular em algum momento do processo, reforçando que a osseointegração não seria uma “reação de corpo estranho”.
Entre os anos de 2018 e 2020, o mesmo grupo que publicou o trabalho de 2016 demonstrou em coelhos, usando análises histoquímicas e moleculares, que o titânio, comparado ao cobre e PEEK, é o único capaz de ativar o sistema imune, mas que isto só ocorre nos primeiros 10 dias e depois os processos inflamatórios subsequentes geram a formação óssea até o final de quatro semanas.
Fim da história?
Por enquanto.
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