Afinal, o que são fatos? Em princípio, informações coletadas. Planilhas com dados de todos os tipos. Esta é a primeira fase de qualquer estudo ou tese que se queira comprovar, refutar ou trazer alguma luz sobre qualquer assunto no mundo científico.
Se esta planilha de dados permanecer intocada por muito tempo, estaremos perdendo a grande oportunidade: mudar e/ou salvar vidas. Sim, dados têm esse poder.
A imagem neste post é uma simples coleta de dados. Se a régua milimetrada não estivesse ao lado da imagem, a coleta estaria incompleta.
Olhem novamente e tirem suas conclusões: o implante dentário é curto, o pilar é hexagonal (capacidade exagerada de retenção), a coroa definitiva foi cimentada. Pelo aspecto oclusal, houve uma tentativa de acesso oclusal para remover o parafuso e retirar a coroa sem danifica-la. Não funcionou. A coroa tem um pouco mais de comprimento do que o implante dentário.
Agora, vamos para a segunda imagem:
Novamente, a régua milimetrada usada como escala. A coroa metalocerâmica do lado direito tem altura considerável. A linha de cimentação é visível e está desadaptada. Pensem no efeito de um contato oclusal lateral sobre este elemento.
Errar é humano. Sim, e se não aprendermos com os nossos erros. Implantes e componentes protéticos são grandes feitos da microengenharia.
Mas não é só na Odontologia que essas complicações ocorrem. Vejam o exemplo mais recente: o foguete da SpaceX. Além de dar ré, faz baliza! Quanto dados foram coletados e examinados para isso acontecer? São pelo menos sete anos de informação contínua e investimento financeiro de milhões de dólares. Os primeiros foguetes (essa informação está amplamente disponível nas redes sociais) fracassaram ao pousar, quero dizer, explodiram!
Mas como a persistência é a mão do sucesso, no final, a equipe da SpaceX criou uma peça de engenharia que pode ser reaproveitada muitas vezes, reduzindo os custos finais dos bolsos dos contribuintes norte-americanos.
Agora, voltemos à Odontologia, e outro ponto que nos aflige. A Classificação recente das Doenças Periodontais reorganizada e publicada entre 2017 e 2018.
São belos sete anos desde a sua publicação, correto? Houve tempo suficiente para coleta e análise dos dados? Sim ou não? Como vamos reverter esse benefício para os nossos pacientes? O nosso comportamento mudou na clínica? Deveria? Por quais motivos? Quantas radiografias não vamos mais fazer? Quantos exames de sondagens nos próximos implantes dentários? As relações custo-benefício e risco benefício mudaram? Como o bolso dos nossos pacientes será impactado?
Um aluno de graduação recém-formado possui duas certezas: a primeira é de utilidade imediata: ele ou ela terminou uma jornada recebendo treinamento básico para atender e pagar suas contas. A segunda será adquirida ao longo dos anos: tropeçar em novas possibilidades, analisa-las e aplicar o que o bom senso permitir.
Esse tal de bom senso é uma mistura de leitura e aplicação controlada. Prima non cere (não fazer mal) é o nosso mantra nas ciências de saúde.
Ainda, quando eu digo "tropeçar", é porque diante de tanta informação audiovisual, quase não sobra tempo para o nosso cérebro respirar. Então:
Decida como fazer a sua "curadoria" da informação. Comece duvidando da sua sombra. Temos dois ouvidos para captar e um cérebro para analisar. Use-os com sabedoria.
Quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade.
Bons leitores são bons detetives de palavras. Esforços são sempre recompensados, nem que seja num futuro próximo.
E finalmente, essa maturidade científica só vem com o tempo e faz parte da grande jornada. Mas nada que impeça eu, você e todos os nossos colegas de procurarem agora, na ciência da Odontologia, a melhor informação disponível.
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