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Foto do escritor PAULO ROSSETTI

Como fazer uma boa documentação para descrever um caso clínico?


Casos clínicos: o leitor só sabe daquilo que você escreve
Casos clínicos: o leitor só sabe daquilo que você escreve

Casos clínicos podem ser interessantes, inovadores, ou trazerem achados inesperados. Toda a literatura científica está repleto deles.

À primeira vista, fazer anotações para um caso clínico ser enviado à alguma revista ou periódico parece...moleza. Só que não é.


Nesse momento, as duas habilidades mais importantes que você precisa são: a sua organização em relação ao tempo, às fotos certas, e aos detalhes do caso clínico.

Esses detalhes se encontram nas fotos e na ficha clínica. Se você é uma pessoa atenta aos fatos, certamente vai conseguir descrever com precisão aquilo que a sua equipe fez.


Entretanto, a maioria não é. Por dois motivos: primeiro, porque nunca tentou, treinou ou não se programou. Segundo, porque não tem rotina para observar, descrever e fotografar com os olhos atentos.

Também, é necessário ter alguma experiência para saber quando o caso clínico poderá despertar interessante numa revista científica. Volte ao começo desse post e releia: são os casos clínicos inovadores, interessantes, inesperados.



Nem todos os casos clínicos possuem dentes longos, gengivas espessas, ou "ficam bem" nas fotos, como num desfile de modelos. O que as revistas buscam é uma descrição detalhada que possa guiar seus leitores do começo ao fim, que traga uma luz sobre uma nova abordagem de tratamento, que seja uma referência para uma nova terapia

Outro ponto que os futuros autores e autoras precisam compreender: editores científicos não editam revistas para seu bel prazer. Apenas o fazem pensando nos futuros leitores, na riqueza clínica dos detalhes, naquilo que é necessário para que qualquer pessoa, ao abrir a revista, possa compreender o que foi escrito, o que está ali, e talvez consiga aproveitar e reproduzir, reciclar seus conhecimentos, melhorando a sua prática clínica.


Mas a boa notícia é que essa situação pode ser resolvida. Basta usar um checklist, uma lista ordenada para ter a segurança de que nada que seja importante ficará de lado.


Também não custa lembrar: ler as normas das revistas, antes de começar a escrever o seu texto, fará uma grande diferença.


Se você nunca fez a descrição de um caso clínico, convide aquele colega que já publicou algo parecido. Ter a ajuda de alguém experiente na confecção do texto fará toda a diferença.

Uma comparação para facilitar o entendimento: estamos na época das Olimpíadas de Paris 2024. Todos os atletas estão no seu ponto mais alto de rendimento físico e emocional. Entretanto, só há três lugares no pódio, reservados aos que tomaram as decisões corretas na hora certa.


Se você tiver a foto certa, do momento certo, da hora certa, com certeza, será um medalhista na descrição do seu caso clínico. É isto que os editores das revistas científicas buscam.

Em geral, no aspecto de como fazer uma boa documentação para descrever um caso clínico, os primeiros fatores a serem observados são:


  • dados pessoais: sexo e idade são fundamentais, porque afetam as decisões dos pacientes e as nossas decisões.


  • a condição extrabucal inicial: fotografe e anote as características faciais que se destacam, sendo importantes no tratamento do paciente; as fotos mais comuns são perfil esquerdo e direito, frontal em repouso e ao sorrir, close do sorriso (incluindo os lábios superior e inferior).



IMPORTANTE: fazer foto extrabucal e intra bucal não é o mesmo que fazer foto de paisagem, do seu cachorro ou da sua casa. Se você NUNCA fez, procure alguém experiente. Isto irá poupar o seu tempo e suas dores de cabeça. Aliás, você tem todo o equipamento de que precisa? Já verificou?


Detalhe: evite a ponta do nariz nas fotos aproximadas do sorriso, fazendo o enquadramento entre o filtro, os lábios superior, inferior e as comissuras labiais.

  • condição intra bucal inicial: cerca de quatro ou seis fotos completam a sequência: foto oclusal superior e inferior, fotos laterais esquerda e direita. Use os espelhos especialmente desenhados para fazer essas fotos, em conjunto com os afastadores labiais e de bochecha. Com a tecnologia digital, é possível fazer alguns ajustes de enquadramento e iluminação, mas nada substitui as condições iniciais, especialmente porque em muitos casos, como nas próteses, não poderemos mais "voltar no tempo" para consertar as fotos. Da mesma forma, características como o posicionamento dentário anômalo (diastemas, rotações, contatos oclusais atípicos, etc.), a classificação da oclusão, a linha de sorriso, o contorno das gengivais, os defeitos teciduais (osso e papilas) são informações fundamentais para quem lê e tentar entender o que se passa.


  • exames por imagem: radiografias interproximais, periapicais, tomografias computadorizadas de feixe cônico: quais seriam as mais adequadas ao planejamento do seu caso clínico? Quais seriam as mais interessantes/obrigatórias num eventual manuscrito para uma revista científica? Como convencer melhor quem vai ler o seu material?


  • motivos que levaram o paciente ao consultório: estética? Clareamento? Acidente automobilístico? Sangramento? Excesso de gengiva ao sorrir? Problemas com as próteses atuais? Dores nas articulações temporomandibulares? Rejuvenescimento facial? Tudo isso constitui a queixa inicial. Não deixe nada de fora. A "cabeça" do paciente é um grande enigma que vai se desfazendo ao longo do tratamento.


  • as opções de tratamento e as opiniões dos pacientes: sempre há pelo menos duas ou três opções, que devem ser confrontadas com o tempo e o bolso alheio. Em geral, isso reflete o dia a dia da prática clínica, e tem um valor inestimável para quem precisa de informação.


DICA 1: agora, pare por um momento antes de prosseguir e revise as suas fotos: o ponto principal aqui será a definição. Estamos falando em pixels, e não no tamanho propriamente dito do seu arquivo TIFF, JPG, RAW. Fotos para revistas precisam de pelo menos 300 dpi, ou seja 300 pontos por polegada.
DICA 2: guarde-as num local separado. Fotos que estão em arquivos Word ou PowerPoint, por exemplo, não servem para publicação e mesmo assim são as mais recebidas no dia a dia de quem trabalha com revistas científicas.
DICA 3: se você não souber se a sua foto tem ou não a resolução mínima, peça ajuda.

Quando o plano de tratamento estiver decidido, haverá outros aspectos a serem descritos, conforme a categoria às quais pertencem:


  • procedimentos cirúrgicos: etapas de assepsia e anestesia são obrigatórias e dependem da extensão da área/defeito a ser operada. É sempre bom que o defeito seja fotografado com algum instrumento para dar a noção de escala, por exemplo, uma paquímetro cirúrgico, uma sonda periodontal, evidenciando as condições locais. Em seguida, os tipos de lâminas e as incisões principais e relaxantes, os biomateriais e suas manipulações, procedimentos para remoção de osso e enxertia de tecidos, colocação de placas e outros dispositivos, colocação de implantes dentários e finalmente o fechamento dos retalhos com as suturas. Descrições detalhadas dos materiais também serão de grande valia.


  • procedimentos protéticos: a lista aqui pode ser tão extensa quanto na parte da cirurgia, envolvendo:

- moldagens iniciais e definitivas e materiais correspondentes

- modelos de gesso e materiais correspondentes

- registros intermaxilares/interoclusais

- uso ou não do arco facial

- escolha do formato e cor dos dentes artificiais

- escolha dos pilares protéticos

- procedimentos de prova, entrega, ajustes e finalização nas próteses


DICA 4: pare mais uma vez e observe se você realmente fotografou o conceito que deseja transmitir: algumas imagens mostram mais quando usamos o close-up das lentes, enquanto outras soam melhor em campos mais abertos. Agora, se você realmente não tem experiência em fotografar, já sabe o que fazer (volte à DICA 1)

DICA 5: novamente, em todos os itens acima, pratique à exaustão colocando detalhes dos materiais e fabricantes. Como será possível que um colega goste do seu trabalho se ele ou ela não entenderem como você fez a sua mágica?

  • intercorrências nas cirurgias e nas próteses: os problemas decorridos destas etapas também serão salutares, especialmente nos casos complexos. Por exemplo, falhas na colocação dos implantes, provas de próteses com necessidade de ajuste, etc.


  • protocolos após as cirurgias e próteses: a descrição de todos os cuidados e recomendações mostram não só o carinho que os profissionais de saúde devem ter, mas também quais foram os fatores que tornaram o caso clínico bem sucedido.


  • tempo de acompanhamento: fundamental para compreendermos a evolução dos procedimentos e aqui mais uma vez precisaremos utilizar todos os recursos fotográficos e de imagem.


DICA 6: quanto maior o tempo de acompanhamento, a sua capacidade de relatar, e a sua capacidade de resolução, maior será a sua autoridade na resolução dos desejos do paciente. É exatamente isso que as revistas científicas precisam e que seus leitores adoram.

Boa sorte e bons trabalhos! Os editores estarão torcendo!

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