A Penicilina é um antibiótico prescrito com regularidade na Odontologia. Normalmente, usamos amoxicilina, uma penicilina de amplo espectro e da 2ª geração. A penicilina atua na parede celular. Já a clindamicina é recomendada para pacientes alérgicos à penicilina. A clindamicina atua no bloqueio da síntese proteica bacteriana.
Uma revisão sistemática recente envolvendo quatro estudos respectivos coorte, ou seja, um grupo homogêneo de partida com as mesmas características, diferenciado apenas pela prescrição de clindamicina aos alérgicos à penicilina, mostra que a falha dos implantes no grupo com clindamicina se aproxima dos 11%, enquanto no grupo com penicilina chega apenas aos 3,8%. No total, são mais de 10 mil implantes dentários investigados.
Outro tipo de análise estatística dentro da revisão, a meta-análise, também mostrou que a prescrição de clindamicina (nos casos de alergia) gera uma chance 3,3 vezes maior de perda de implante dentário do que nos casos com penicilina.
Esse número corresponde ao OR (odds ratio ou razão das chances), ou seja, são as proporções de alérgicos por não alérgicos nos grupos teste (clindamicina) e controle (penicilina). Todo valor OR maior do que 1 é considerado chance de ocorrência provável para o fenômeno estudado.
A principal hipótese aventada para as falhas nos casos de uso de clindamicina seria sua interferência na atividade dos osteoblastos (2 estudos in vitro, 1 estudo clínico).
Entretanto, este trabalho também serviu para uma preocupação crescente: no dia a dia, colhemos apenas os relatos dos pacientes que se dizem alérgicos à penicilina, e automaticamente, os programamos para receber clindamicina. Então, será que não estaríamos “aumentando” o número de falhas nos implantes?
Para isso, os autores sugerem que seja realizado um protocolo conhecido como “delabeling”, ou seja, aplicar o teste de laboratório para confirmar se realmente estes pacientes possuem alergia à penicilina, excluindo essa designação dos seus prontuários.
Lembrando: esta revisão, mesmo que sistemática, trouxe apenas quatro estudos na tabela de meta-análise, de natureza retrospectiva, o que deve ser visto com restrições na transposição destes dados para a prática clínica.