"Embora todos os pacientes estivessem tomando medicamentos que afetassem negativamente a cicatrização das feridas, somente o pamidronato e o zoledronato eram a única classe de fármacos comuns aos 36 indivíduos".
Foi desta maneira que Robert Marx, cirurgião bucomaxilofacial, se referiu ao estranho achado numa carta publicada em setembro do ano de 2003 na revista Journal of Oral Maxillofacial Surgery, mostrando o surgimento de uma "lesão intraoral incomum ora na maxila, na mandíbula, ou em ambas as arcadas."
Ambos os medicamentos (bisfosfonatos nitrogenados) eram utilizados por via intravenosa no tratamento da hipercalcemia relacionada ao mieloma múltiplo (18 pacientes) , carcinoma metastático da mama (17 pacientes) ou osteoporose (1 paciente).
Havia o conhecimento prévio de que os bisfosfonatos eram inibidores da reabsorção óssea. O alvo era impedir o funcionamento dos osteoclastos (células que "comem" osso).
E se você precisa aprender um pouco de biologia óssea em cinco minutos, faça uma pausa e reflita sobre o texto abaixo:
Quando os osteoblastos se encontram circundados pela matriz óssea, transformam-se em osteócitos. Mas os osteócitos só duram por 150 dias. Assim, quando morrem, a matriz óssea ao seu redor perde nutrição e pode trincar por carga ou trauma. Adivinha quem deve remover esta matriz? O osteoclasto!
Mas como fazer isso, se o tais osteoclastos não funcionam justamente porque esses bisfosfonatos nitrogenados os impedem?
Como apontado na carta, "Os maxilares são os únicos ossos do corpo humano que se comunicam com o meio externo, através dos dentes, que com frequência apresentam inflamação periodontal, abcessos, problemas endodônticos, e outras patologias que aumentam a demanda e a taxa de metabolismo ósseo."
Ainda: "...observamos que em 28 destes 36 casos, as lesões ocorreram após a extração dentária."
E embora fosse relatado que "....a remoção dos dentes comprometidos aliviasse a dor, isto poderia acentuar o nível de exposição óssea.."
Então, por isso as lesões eram caracterizadas como um osso avascular e necrótico, surgindo como sequestros e afetando os tecidos moles, gerando "crateras".
Em 2003, a recomendação para tratamento incluía "antibióticos por longos períodos de tempo, além do controle local usando bochechos de clorexidina 0,12%."
Acesse o trabalho original:
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