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Foto do escritor PAULO ROSSETTI

A “percepção” do que é a cárie – parte 1


Cárie: uma cavidade irritante. Imagem: IA.
Cárie: uma cavidade irritante. Imagem: IA.

Cárie, uma doença. Difícil é fazer os pacientes acreditarem que é uma doença. Na maior parte dos casos, só dói quando atinge a dentina (geralmente pela madrugada, quando a gente está naquele soninho bom). Mata? Não. O paciente sente? Depende. Mas ela remove a estrutura sadia (esmalte, dentina), afeta a estética, cria uma mancha escura.


A chance de termos cárie nos locais com acesso mais complicado para limpar é 110%, coincidente com a nossa incrível “perda de memória” para uso do fio dental ou qualquer outro dispositivo interproximal de limpeza após cada refeição. E dá-lhe isolamento “mais que absoluto”, cunha, fita, etc.


Ainda, a cárie não escolhe idade. Eu gosto, mas não sou bom em tratar a criançada profissionalmente. Confesso: nunca seria um excelente Odontopediatra.


Já foi pior? Claro, quando mal se conhecia o que era um dente (mais ou menos como a gente na virada do segundo para o terceiro ano da graduação...bons tempos).


O problema é que o ente “cárie” é a consequência. A causa é o tal de açúcar, banquete ideal para as bactérias que nós temos na boca. Esses microrganismos também fazem refeições. E liberam ácidos, que “arrebentam” com os nossos dentes.


Nosso vício em tudo que é líquido e doce pode ser fatal. Pronto, agora o seu paciente vai acreditar que a cárie é mesmo uma doença.

Aviso: não vou rechear esse post com estatísticas. Deixo isso para quem já o faz muito bem. Por favor, leiam Keyes, Newbrun, Fejerskov, Kidd, e outras dezenas de pares que tanto nos trazem sobre a epidemiologia (prevalência, incidência), controle, e os métodos atuais de prevenção.


Se você é um profissional recém-formado, precisa entender um aspecto importante: a cárie não vai dar chance para o seu paciente. Ela não julga pelo rosto.


Ela pode evoluir tanto lentamente quanto engatar uma quinta marcha e chegar à polpa na mesma semana. Daí haverá pouco a ser feito porque a primeira ideia, uma restauração bem pequena logo se transformará numa peça parcial maior (onlay com duas ou três faces), que em pouco tempo caminhará para um preparo e coroa total.


Pior: ninguém quer ter um dente sem vitalidade. Entretanto, veja essa situação sui generis: o dente é um “órgão” que pode ficar sem vitalidade por causa de uma cárie. Quando isso acontece em outra região do nosso corpo é muito sério porque logo pensamos em transplante. Na boca, acreditem, nenhum de nós gosta de extrair dentes, ainda mais por cárie que não pode ser controlada.

Sim, essa é a maior lição: ter controle.


Outro ponto: fazemos coroas totais porque os dentes precisam, e não porque os estaremos protegendo mais do fenômeno cárie. O risco nessa situação é até maior. Se o seu paciente não escovar bem a região gengival...dá na mesma.


Não existe nada melhor do que o esmalte do dente humano. Todos os outros materiais de substituição são artificiais, tentativas de mitigar processos patológicos.


Dentes são feitos para triturar, mastigar, e não se desgastarem muito ao longo do tempo. Melhor ainda quando ficam livres das cáries.


Mas eu admito: a percepção do que é a cárie é um "pé naquele lugar". Tira a nossa tranquilidade. O diagnóstico pode ser difícil, sua remoção idem. Por isso, é bom investir logo cedo em ferramentas para sua detecção e prevenção.   

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